Minha lista de blogs

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

voce sabe o que quer dizer 'DISBICICLÉTICOS"

VEJA EM :


Disbicicléticos Janeiro 1,2009
2009http://agenciainclusive.wordpress.com/2009/01/01/disbicicleticos/
Por Emilio Ruiz Rodriguez*

Dani é uma criança que não sabe andar de bicicleta. Todas as outras
crianças do
seu bairro já andam de bicicleta; os da sua escola já andam de
bicicleta; os da
sua idade já andam de bicicleta. Foi chamado um psicólogo para que
estude seu
caso. Fez uma investigação, realizou alguns testes (coordenação
motora, força,
equilíbrio e muitos outros; falou com seus pais, com seus professores,
com seus
vizinhos e com seus colegas de classe) e chegou a uma conclusão: esta
criança
tem um problema, tem dificuldades para andar de bicicleta. Dani é
disbiciclético.
Agora podemos ficar tranqüilos, pois já temos um diagnóstico. Agora
temos a
explicação: o garoto não anda de bicicleta porque é disbiciclético e é
disbiciclético porque não anda de bicicleta. Um círculo vicioso
tranqüilizador.
Pesquisando no dicionário, diríamos que estamos diante de uma
tautologia, uma
definição circular. “Por qué la adormidera duerme? La adormidera
duerme porque
tiene poder dormitivo”. Pouco importa, porque o diagnóstico, a
classificação,
exime de responsabilidade aqueles que rodeiam Dani. Todo o peso passa
para as
costas da criança. Pouco podemos fazer. O garoto é disbiciclético! O
problema é
dele. A culpa é dele. Nasceu assim. O que podemos fazer?
Pouco importa se na casa de Dani seus pais não tivessem tempo para
compartilhar
com ele, ensinando-o a andar de bicicleta. Porque para aprender a
andar de
bicicleta é necessário tempo e auxílio de outras pessoas.
Pouco importa que não tenham colocado rodinhas auxiliares ao começar a
andar de
bicicleta. Porque é preciso ajuda e adaptações quando se está
começando.
Pouco importa que não haja, nas redondezas de sua casa, clubes
esportivos com
ciclistas com quem ele pudesse se relacionar, ou amigos ciclistas no
bairro que
o motivassem. Porque, para aprender a andar de bicicleta não pode
faltar
motivação e vontade de aprender. E pessoas que incentivem!
Pouco importa, enfim, que o garoto não tivesse bicicleta porque seus
pais não
puderam comprá-la. Porque para aprender a andar de bicicleta é preciso
uma
bicicleta. (Felizmente, os pais de Dani, prevendo a possibilidade de
seu filho
ser disbiciclético, preferiram não comprar uma bicicleta até consultar
um
psicólogo.)
Transportando este exemplo para o campo da síndrome de Down, o
processo é
semelhante. Desde quando a criança é muito pequena, apenas um
recém-nascido, é
feito um diagnóstico – trissomia do cromossomo 21 – por um médico
especialista,
e verificado, com uma prova científica, o cariótipo. A partir disso,
entramos em
um círculo vicioso no qual os problemas justificam o diagnóstico, o
qual, por
sua vez, é justificado pelos problemas.
Por que a criança não cumprimenta, não diz bom-dia quando chega, nem
adeus
quando vai embora? “É que ela tem síndrome de Down”. Ah, bom! Achei
que era
mal-educada.
Por que a criança não se veste sozinha, e sua mãe a veste e despe
todos os dias,
se já tem oito anos? “É que ela tem síndrome de Down”. Ah, bom! Pensei
que não
lhe tinham ensinado.
Por que continua a tomar mamadeiras se já tem seis anos? “É que ela
tem síndrome
de Down”. Ah, bom! Imaginei que era comodismo de seus pais.
Por que a criança não sabe ler? “É que ela tem síndrome de Down”. Ah,
bom!
Pensei que não lhe haviam ensinado.
Por que não anda de ônibus ? “É que ela tem síndrome de Down”. Ah,
bom! Pensei
que não lhe permitiam fazer isso.
E, assim, uma lista interminável de supostas dificuldades que, por
estarem
justificadas pela síndrome de Down, não necessitam de nenhuma
intervenção, além
da resignação. Todas as suas dificuldades se devem à síndrome de Down.
Podemos estender a qualquer outra deficiência em que o diagnóstico
médico ou
psicológico possa ser utilizado como desculpa para nos eximirmos de
responsabilidades. Se classificamos a criança como disfásica,
disléxica,
discalcúlica, disgráfica, deficiente visual ou auditiva, mental ou
motora,
disártrica ou simplesmente disbiciclética, estamos fazendo algo mais
do que
“colocar um nome” no que pode acontecer com uma criança. Estamos
criando
expectativas naqueles que a cercam.
Por isso, eu sugiro que antes de comprar uma bicicleta para seu filho
ou sua
filha, comprove que não sejam disbicicléticos. Não vá que aconteça
imediatamente
após a compra dar-se conta de que se jogou dinheiro fora.

Fonte: zerohora.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário